Gil Braltar (Parte 5)

O perigo no exterior não era menor. Ao que parecia, alguns soldados haviam podido se reunir na Porta do Mar e avançavam em direção à casa do general. Vários disparos foram ouvidos nos arredores da Main Street e da Praça do Comércio. No entanto, o número de símios era tal que a guarnição de Gibraltar corria perigo de muito em breve ver-se obrigada a ceder posições. E então, se os espanhóis fizerem causa comum com esses macacos, os fortes seriam abandonados, as baterias ficariam desertas, as fortificações não contariam com um único defensor, e os ingleses que haviam feito inacessível aquela rocha, não voltariam a possuí-la jamais.

De repente, ocorreu uma brusca inversão nos acontecimentos.

Em efeito, à luz de algumas tochas que iluminavam o quintal, pode-se ver os macacos saírem em retirada. À frente do grupo ia seu chefe brandindo seu bastão. Todos o seguiam no mesmo ritmo, imitando seu movimento de braços e pernas.

Gil Braltar pode se desamarrar e escapar do quarto onde se encontrava prisioneiro? Não havia dúvida que era possível. Porém onde iria agora? Para a ponta da Europa, onde morava o governador, a fim de atacá-lo e forçá-lo a se render, como fez com o general?

Não! O louco e seu bando desceram pela Main Street. Depois de cruzar a Porta da Alameda, marcharam obliquamente através do parque e começaram a subir a encosta da montanha.

Uma hora depois, na vila não restava sequer um dos invasores de Gibraltar.

O que havia ocorrido, então? Logo se soube, quando o general Mac Kackmale apareceu no limite do parque.

Havia sido ele quem, desempenhando o papel de louco, havia se coberto com a pele de macaco do prisioneiro e havia orientado a retirada do bando. Parecia tanto com um quadrúpede, este bravo guerreiro, que conseguiu enganar os macacos. Assim foi, não tendo outra coisa a fazer que aparecer e todos o seguiram.

Simplesmente uma ideia genial, que logo foi recompensada com a concessão da Cruz de São Jorge.

Quanto a Gil Braltar, o Reino Unido deu-o em troca de dinheiro a um Barnum que fez fortuna exibindo-o nas principais cidades do Velho e do Novo Mundo. O Barnum ainda diz de bom grado que não está exibindo aquele selvagem de São Miguel, mas sim o general Mac Kackmale em pessoa.

No entanto, esta aventura constituiu uma lição para o governo de Sua Graciosa Majestade. Ele percebeu que embora Gibraltar não pudesse ser tomada por homens, estava à mercê dos macacos. Por conseguinte, a Inglaterra, que é muito prática, decidiu não mais enviar para lá senão os mais feios de seus generais, de maneira que os macacos voltassem a se enganar se houvesse outro feito similar.

Esta medida lhe garantirá, verdadeiramente para sempre, a posse de Gibraltar.

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